São poucos os times brasileiros que privilegiaram diferentes gerações de torcedores com a oportunidade de comemorar um título. Desde os primeiros anos até pouco antes de completar o centenário, o Nacional conseguiu fazer seus amantes gritarem “é campeão!” em todas as décadas de existência. As lembranças dos jogadores que mais vezes levantaram a taça pelo clube são o tema do sexto capítulo da série em homenagem aos 100 anos nacionalinos.
Marinho Macapá recebendo troféu na década de 80 |
Tais conquistas credenciaram o Leão da Vila Municipal ao posto de quinto clube com o maior número de títulos estaduais do Brasil, atrás apenas de ABC-RN (52), Paysandu-PA (44), Bahia (44) e Remo-PA (42).
Para esse vasto currículo, não houve tempo ruim. Talvez um período nem tão glorioso, como na década de 1950, na qual o time ergueu a taça somente em duas ocasiões.
Mesmo assim, em 48 edições do Campeonato Amazonense no período amador (de 1914 até 1963), o Nacional foi campeão em 28. Após a profissionalização, foram mais 13 conquistas, inclusive a primeira do regime. O Naça também fechou a era amadora com título.
Muitas glórias, muitos herois. Como Craveiro, atacante que esteve na primeira conquista estadual do clube, em 1916, e participou de todo o pentacampeonato até 1920.
Ídolo a exemplo de Rodolpho Gonçalves, campeão com o Nacional de 1917 a 1920, mais os anos de 1922 e 1923. Gonçalves que, na década de 1930, seria um dos responsáveis diretos pela cisão nacionalina que daria origem ao Fast Clube.
Um time de vencedores, como Barrote , Otílio Farias e Iano, atletas que marcaram presença em conquistas do Leão nas décadas de 1930 e 1940.
Otílio Farias, inclusive, tem uma via pública em sua homenagem no bairro Educandos, zona sul de Manaus. Mantendo a linha de grandes campeões, destacaram-se também Lupércio, Raspada, Paulo Onety e Pedro Sena, esses campeões na década de 1940.
Os anos de 1960 foram de Pepeta, protagonista de dois bicampeonatos (63-64 e 68-69). Período com o maior número de colecionadores de títulos, no entanto, foram os 20 anos seguintes.
Beneficiados pelas campanhas do hexa e do tetra nos anos 1970 e 1980, quem ficou por longas datas no Nacional teve a oportunidade de ter o nome eternizado na história do clube. E poderia ser melhor.
Não fosse a conquista “intrusa” do Rio Negro em 1982, o Naça seria campeão estadual por 11 vezes consecutivas.
Esteve nessa safra de títulos defensores consagrados no futebol amazonense, como o lateral esquerdo Luis Florêncio, mineiro que conquistou cinco estaduais com o Leão da Vila Municipal entre 1974 e 1986. Destaque dessa época também foi o zagueiro Murica, sete vezes campeão com o Nacional entre 1981 e 1995.
Atualmente, com a constante rotação de jogadores nos clubes do Estado, dificilmente haverá, tão cedo, um novo recordista de títulos pelo Leão da Vila.
No entanto, ainda há um nacionalino em atividade que pode erguer pela quinta vez a taça de campeão amazonense. Trata-se de Garanha, campeão pelo clube em 1996, 2000 e 2003. “Meu objetivo é participar como atleta do centenário no primeiro semestre de 2013”, adiantou.
Marinho Macapá
Ele é macapaense, mas parece mais mineiro. Marinho Macapá começou a jogar em 1978, no Guarani Atlético Clube, time amador do Amapá, e chamou a atenção do técnico do Nacional na época, Laerte Dória, após alguns amistosos com o clube.
Marinho nos dias de hoje |
Contratado em 1979, ele foi “comendo pelas beiradas” e acumulou oito títulos com o Leão da Vila até 1995. Com mais dois campeonatos conquistados defendendo o rival Rio Negro enquanto atleta, Marinho se tornou o jogador que mais vezes foi campeão amazonense.
Das conquistas mais marcantes na carreira, o ex-jogador utiliza o mesmo critério de Paulo Galvão e escolhe o seu primeiro título estadual, em 1979, e o de 1986.
“No primeiro, jogamos contra o Rio Negro. Eu estava no banco e o Raul fez o gol nos últimos minutos da prorrogação. O outro foi em 1986, quando a base do Nacional foi campeã. Os mais experientes eram (Luís) Florêncio, (Paulo) Galvão e eu”, lembrou Macapá.
“Até hoje sou reconhecido pelos torcedores, pelo tempo que joguei e os títulos que conquistei. Para mim, é uma honra. O Nacional foi o time que me trouxe de Macapá e eu sou nacionalino”, reconheceu. Macapá nunca exerceu outras funções no clube, mas já integrou a comissão técnica de São Raimundo e Holanda.
Paulo Galvão
Paulo Galvão começou a defender o Nacional aos 22 anos, em 1977, e precisou de dez temporadas no clube para entrar na história. Segundo ele, foram oito títulos conquistados nesse período. De acordo com o jornalista Carlos Zamith no livro Baú Velho, foram sete.
Paulo Galvão zagueirão do Naça na década de 80 |
Somados com a conquista do ex-zagueiro como técnico em 2002 – de forma invicta, diga-se de passagem –, mais uma taça. Nove ou oito vezes campeão, Paulo é o maior vencedor da história do clube.
Ao eleger os estaduais mais importantes da carreira, ele pensa no que foi de maior importância ao Naça e escolhe as temporadas de entrada e saída do clube como principais. “Em 1977 estreei no Nacional, então foi inesquecível.
Já o Estadual de 1986 foi marcante porque eu era um dos mais experientes num grupo cheio de jovens recém-promovidos das divisões de base. Fomos campeões com garotos”, lembrou.
Tamanho poder de liderança serviu como incentivo para Paulo Galvão iniciar carreira de treinador em seguida. De volta ao Nacional em 2002, mas na nova função, ele assumiu o time na metade da competição e manteve a campanha invicta do time até o título. Façanha que ex-zagueiro repetiria em 2004, desta vez com o São Raimundo.
A carreira emergente como técnico, porém, não durou muito. Chateado com a falta de apoio dos amazonenses ao Tufão, aliada com ameaças de torcedores aos seus familiares, Paulo Galvão se desligou completamente do futebol. Hoje, morando em Recife-PE, ele adotou as maratonas como hobby.
Bendelack
Engana-se quem pensa que colecionar títulos foi privilégio apenas de defensores do Nacional nos anos 1980. Ponta direita habilidoso, o paraense Bendelack conquistou cinco estaduais entre 1979 e 1984, ajudou o clube na primeira divisão do Campeonato Brasileiro e ainda acrescentou ao currículo passagens por grandes clubes do País, além de uma participação na Taça Libertadores da América, defendendo o Jorge Wilstermann, da Bolívia.
Tudo começou nas disputas de algumas peladas com o São Cristovão, de Santarém-PA, onde Raimundo Augusto Cunha de Rosário, apelidado de Bendelack, chamou a atenção do Fluminense-RJ, para onde foi no fim da década de 1970.
Sem espaço no clube carioca, passou a ser pretendido por times paraenses, mas foi com o Nacional que o jogador entrou em acordo, em 1979, por intermédio do olheiro Alfredo Barbosa Filho.
“Foi uma experiência maravilhosa. Fui para a Bolívia em 1981, onde joguei na Libertadores. Cheguei no Cruzeiro e voltei ao Nacional por amor ao clube, em 1983”, lembrou o ponta.
Após conquistar o Campeonato Amazonense de 1984, com a companhia de Dario Maravilha e Edu, Bendelack partiu rumo a Piracicaba-SP junto com o artilheiro Dadá, depois foi jogar no futebol de Natal-RN, onde encerrou a carreira aos 31 anos.
Sem mais trabalhos com o futebol, Raimundo de Rosário passou o apelido Bendelack para o nome dos filhos. Atualmente, com 57 anos, ele trabalha como fiscal numa empresa de limpeza pública de Santarém.
Fonte:Jornal Acritica
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