Flavio de Souza |
A ideia é inusitada, curiosa, mas feita por um profissional do futebol que dividia seus compromissos atuando como auxiliar técnico e preparador físico em algumas equipes do futebol amazonense. Mas foi no Leão da Vila Municipal que surgiu a grande inspiração para compor um dos hinos mais "belos" do futebol cinco vezes campeão do mundo.
Como surgiu
O então auxiliar técnico e preparador físico da equipe juvenil do Atlético Rio Negro Clube, Flávio de Souza, iniciando sua carreira na área, recebeu o convite do arquirival, o Nacional Futebol Clube, por meio do treinador, João Bosco Ramos de Lima, em 1968, para trabalhar na comissão técnica do "Mais Querido". Flávio de Souza, chegou em uma época áurea do Naça nas competições em que disputava no cenário local e nacional.
Ao final do treino da equipe em uma sexta-feira, quando o Naça se preparava para enfrentar o Olímpico Clube pelo Campeonato Amazonense, Flávio de Souza, se dirigiu ao comandante azulino e disse que o grupo atravessava um momento muito bom e precisava de um hino para completar um ciclo vitorioso. Ele atuava como comentarista de futebol na Rádio Baré, e ainda fazia parte do conjunto musical "Regional Baré", em que acompanhava os cantores que se apresentavam na emissora, além das exibições nos cinemas da cidade.
Segundo Flávio de Souza, o fato de atuar dentro de campo e conhecer a musicalidade o ajudou na composição e na letra do hino do Nacional.
- Lembro-me muito bem desse dia. Ele (treinador) me disse "você toca violão, trabalha na Rádio Baré", porque não faz o hino do clube. No final do treino, fui para casa na sexta a noite, comecei a elaborar e fazer um pequeno rascunho. Tudo apareceu pela minha capacidade e inteligência, onde comecei a imaginar como se estivesse na torcida do Nacional cantando e que na época era bem inflamada. Me senti como se estivesse na arquibancada ao lado do time em campo, onde a inspiração cria a história e coloca a música. Cada frase eu colocava em um pedaço de música e com o violão fazia a melodia. Fiz isso, montando trecho por trecho até chegar ao final.
Flávio de Souza contou ainda que, depois de feito o trabalho de composição e a letra do hino, tratou de conseguir uma pessoa para gravar o resultado final de sua obra. Foi quando ele lembrou de sua irmã, que cantava na Rádio Baré, e pediu para ela gravar e depois mostraria para diretoria do clube.
- Ela gravou em um estúdio de um amigo e depois levei para o diretor do clube, A. Ferreira Pedra (na época dono de uma loja de material de construção), na segunda a noite. Mas naquele dia disse pra ele que não fiz o hino, mas sim outra pessoa. Toda segunda-feira, tinha reunião da diretoria e foi quando o então presidente Paulino Gomes e os demais diretores gostaram e aprovaram. Mas é claro, quando fiquei sabendo disse que a autoria era minha.
Depois de aprovado pelos dirigentes nacionalinos, Flávio de Souza procurou seu cumpadre, conhecido por Fernando Silva, onde na época vendia discos e era representante da Phillips do Brasil. O compositor não perdeu tempo e tratou de encomendar mil discos (suvinil).
- A empresa convocou cantores e o maestro para a gravação. Mas eu fiz toda orientação de como queria, onde pedi um coro de vozes masculino e feminino, porque sabia como queria igual ao do Flamengo, Vasco, ou seja, que fosse baseado nos grandes times do futebol brasileiro.
Segundo Flávio de Souza, ele não esperava um retorno tão positivo e que fizesse tanto sucesso com destaque nacional, inclusive admirado, conforme ele por torcedores de outras equipes locais.
- A revista Placar elegeu o hino do Nacional, dentre os mais bonitos do Brasil. As operadoras colocaram no telefone na década de 90 na Bahia e Belo Horizonte, e começaram a vender a partir daí os hinos dos clubes. Confesso que não esperava que chegasse a tanto, mas acabou caindo no gosto da torcida. Tinha até torcedor do Rio Negro, que disse que o hino tinha ficado muito bonito.
Flávio de Souza
Flávio de Carvalho Souza, 82, natural da cidade do Cruzeiro do Sul, no Acre. Casado, pai de dois filhos (um casal) e duas netas. O filho de Flávio (Flavinho) ainda tentou ser jogador de futebol pelo Sul América, em 76/78, mas não deu sequência na carreira. Flávio é radialista, fundador da Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas (Aclea), onde foi o terceiro presidente da entidade. Flávio chegou na capital amazonense quando ainda tinha um ano com sua família para tentar uma vida melhor e mais digna.
Confira a letra do hino do Nacional
Nacional. Nacional. Nacional.
Teu glorioso pavilhão
Nos encoraja para a luta
Com amor e união
Mais querido e sempre amado
Pela sua tradição de campeão
Sempre consagrado no gramado
Azul gramado
Ô Nacional o meu coração
Vamos a luta lutar para vencer
Se for preciso lutar até morrer
Lutar com disciplina e destemor
Mostra a todo o mundo o teu valor
Tua torcida estará sempre ao teu lado
Sempre fiél
Meu clube adorado
Tua estrela azul
É símbolo de glória
Avante Nacional para a vitória